Fortaleza, CE – A discussão sobre o conceito de fair share durante e suas implicações para a internet global, levantou preocupações significativas entre especialistas e partes interessadas durante o evento LACNIC 40, nesta terça-feira, 3. A discussão, que abordou questões relacionadas à neutralidade de rede, impactos financeiros e o acesso à internet, revelou perspectivas variadas sobre o assunto.
Sem a presença de nenhuma operadora ou empresa do setor de telecomunicações, a discussão se deu unicamente na perspectiva dos atores de internet. Contudo, isso não significa que ambos os lados não estejam debatendo a melhor saída entre si. Porém, para alguns especialistas esse conceito não serve para a América Latina como faz sentido para a União Europeia.
“Na europa a discussão faz sentido, o que não quer dizer que seja boa. Lá querem trazer subsídios da indústria norte-americana e da China. Lá faz sentido, mas na América Latina não. Não temos um ecossistema parecido com o da Europa de hoje”, explicou Raúl Echeberría, diretor executivo da ALAI.
O moderador do painel, Oscar Robles, diretor-executivo da LACNIC, trouxe questionamentos sobre as consequências de não cumprir as propostas, destacando a possibilidade de degradação no tráfego da internet e sobre como os benefícios para os usuários finais seriam financiados, sugerindo que poderia recair sobre eles a responsabilidade de pagar pelos serviços.
Paula Bernardi, assessora sênior jurídica e política da Internet Society, afirmou então que as propostas em debate alteram a premissa fundamental que tornou a internet um sucesso global. Ela argumentou que as propostas são incompatíveis com a neutralidade de rede e podem criar riscos de fragmentação da internet, resultando em infraestruturas ineficientes e serviços de qualidade inferior para os usuários.
“Os argumentos batem nessa tecla de volume de tráfego, mas isso é variável depende do tipo de rede, do usuário, das tecnologias utilizadas e outros fatores. Não é uma métrica única como argumento global, nenhuma dessas propostas traz benefícios para os consumidores finais”, sentenciou.
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O que se busca resolver com o fair share?
Wardner Maia, membro do diretório da Lacnic e sócio fundador da Abrint, expressou o desejo de que alguém do setor de telecomunicações respondesse às indagações sobre o fair share. Ele enfatizou a importância de entender qual problema as empresas que defendem essa premissa estão tentando resolver, especialmente considerando os lucros substanciais que algumas dessas empresas têm registrado.
Para o especialista, a divisão de custos é uma desculpa que não se justifica. “O objetivo é aumentar ainda mais esses lucros? Uma delas, por exemplo, que eu tenho o número real, obteve mais de 1,3 bilhões de lucro líquido em um trimestre. Então, na realidade, qual o problema que essas empresas querem resolver? Aumentar esse lucro de 1,3 bilhões de reais em menos de três meses?” indagou e alfinetou dizendo que gostaria de ter esse tipo de problema.